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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Jesus Um Pobre Entre Os Pobres?

Jesus de Nazaré: um pobre entre os pobres

Outro dia o pastor Anderson Angelotti Moraes da comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, em defesa de sua pseudoteologia da prosperidade, entrevistado por revista de renome nacional, saiu-se com esta: “Jesus foi um homem rico. A igreja sempre pregou que ele foi pobre, mas isso não é verdade. Ele não recebeu somente três presentinhos dos reis magos. Ganhou muito mais, e ficou rico. Tinha até tesoureiro. Como ele cuidaria de seus discípulos sem dinheiro? Eles precisavam comer e trocar de roupa, mas isso a igreja tradicional não diz”.

A infeliz declaração torna extremamente trivial a obra de Cristo, e tenta jogar na latrina o texto bíblico inspirado: “Não acumuleis tesouros sobre a terra; Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. (Mt. 6.19 e 24). “Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis e as aves do céu ninhos; mas o Filho do homem (Jesus) não tem onde reclinar a cabeça” (Mt. 8.20). E mais. “Pois que aproveita ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma”. Em outras palavras Jesus nos diz que não adianta ter uma fortuna, se a alma se perder. A alma é de valor incomparável! Afinal Cristo, veio ao mundo, não para amealhar riquezas terrenas, mas para salvar e resgatar o homem do estado espiritual em que se encontra.

John F. MacArthur, renomado

escritor cristão, diz que esse tipo de pensamento, oriundo da tal teologia da prosperidade gera pobreza espiritual, violenta a graça de Deus e substitui as verdadeiras riquezas espirituais por ganância e desilusão. Esse pensamento, também questiona a integridade de Jesus, pois ele afirmou que um discípulo não está acima de seu mestre ou o servo acima de seu senhor (Mt. 10.24). O apóstolo São Pedro, assevera em epístola que fomos chamados para sofrer, uma vez que Jesus sofreu por nós e deixou o exemplo para seguirmos (1 Pe. 2.21). Da mesma forma o apóstolo São Paulo  ensinou que todos os cristãos experimentarão sofrimento (2 Tm.3,12).

As evidências do padrão de vida que Jesus teve enquanto permaneceu entre nós, cerca de 30 ou 33 anos, são de quase estrita pobreza. Nasceu em Belém Efrata em condições humilhantes, para as condições de vida moderna. Por providência divina seus pais, Maria e José, receberam ofertas que permitiu à família esconder-se da ira de Herodes, no Egito. De volta do Egito, onde, provavelmente, viveu seus primeiros dois anos, radicou-se com seus pais em Nazaré, onde morava numa casa feita de pedra, madeira e terra, que não tinha mais do que 20m2; o piso era feito normalmente de chão batido.

 Instalações como banheiros existiam apenas na casa de pessoas muito abastadas; a maioria dos habitantes fazia suas necessidades fisiológicas em pinico ou se aliviava no mato. Mobílias eram poucas e pouquíssimos tinham cama; os pobres dormiam no chão. Os telhados das casas, dizem os bons e honestos livros de história sobre a vida humana de Jesus, eram planos e utilizados para secar roupas e frutos, guardar ferramentas

ou até mesmo para dormir. As casas tinham normalmente apenas uma porta, que servia de fonte de luz e ar. Janelas eram raras e normalmente pequenas, de maneira que não havia muita iluminação e circulação de ar. O pátio era parte integrante da casa e servia como lugar para as atividades domésticas, como lavar e cozinhar. A água provinha normalmente de cisternas, que armazenavam a água da chuva. Então, cadê a riqueza?

Com José, Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro, profissão que até onde se sabe, em qualquer época ou mundo possível, nunca deixou alguém rico. Viveu em Nazaré até completar, aproximadamente, 30 anos, quando então iniciou sua missão.

Jesus era tão humilde, que o povo da cidade de Nazaré não aceitou que alguém com uma origem tão paupérrima pudesse ser o Messias. A cidade ficou ofendida com ele; rejeitou e se escandalizou com a idéia de Jesus, o carpinteiro, afirmar ser o ungido de Deus. Alguns perguntaram: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria?”.

Depois de sacudir a poeira das sandálias e sair de Nazaré, interior da Galiléia, Jesus foi para Cafar-naum. Nesta cidade as pessoas que Jesus conheceu e se relacionou faziam parte da grande  maioria marginal que vivia permanentemente fora do alcance das vazias promessas de Roma de trazer prosperidade e esperança até mesmo às classes inferiores e degradadas de mulheres e homens.

Além disso, o sentido da missão de Jesus Cristo e o

método que usou foram inaceitáveis para seus contemporâneos e parece que ainda é, hoje, para alguns “cristãos” do presente século, ávidos por poder terreno e riquezas; suas palavras provocaram ira e oposição. Foram aos pobres, as vítimas da sociedade, aos débeis, abandonados e explorados pelos poderosos e aos marginalizados, a quem Jesus dirigiu primeiramente seu ministério. Jesus Cristo sempre se mostrou ao lado dos pobres, pois a pobreza não é uma virtude, mas desafio à justiça Divina.  Sua presença em meio aos humildes foi à presença de um pobre entre os pobres. Foi um cidadão pobre numa província pobre do tributário Império Romano.

O “proletário de Nazaré” identificou-se primeiramente com o povo e depois o confrontou com a visão do Reino. Suas referências, ilustrações e linguagem correspondem ao estilo de vida das classes mais simples da sociedade. Então, onde esta a base para quem quer que seja afirmar que “Jesus foi um homem rico de bens materiais” hein?

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião.