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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Notícias falsas no Brasil

As notícias falsas no Brasil não são algo novo. No país, o fenômeno sempre foi conhecido de quem acompanhava o noticiário político.[1] Notícias falsas, distribuídas no período das eleições, tentando minar a reputação de alguns candidatos. Com os avanços tecnológicos e a facilidade de acesso à informação, com o surgimento da internet, e das redes sociais, as notícias falsas tomaram proporções cada vez maiores devido à facilidade que se tem em gerá-las, publicá-las e compartilhá-las. Cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas sobre política no Brasil[2] e, segundo pesquisa do Instituto Ipsos de 2018, o brasileiro é o povo que mais acredita em fake news dos 27 países que fizeram parte da pesquisa.[3] A pesquisadora Claire Wardle em um artigo no First Draft News[4] fala das motivações da criação de notícias falsas como exemplo, interesse em ganhos financeiros.[5] Pode ocorrer por motivos partidários, para prejudicar adversários políticos,[6] e até mesmo por motivos de brincadeira, sem real intenção de prejudicar alguém, como os sites de notícias humorísticas que criam notícias falsas na web como exemplo: Sensacionalistas,Tabloidebr, entre outros, que por vezes alguns leitores acabam acreditando na brincadeira e compartilhando como se fosse uma noticia real, chegando a viralizar e até canais de notícias reproduzirem a notícia falsa sem antes fazer a verificação.[carece de fontes] Com relação ao tema das notícias falsas estão entre os mais variados como, política, esportes, vida de famosos, hábitos alimentares, saúde, entre outros. História República Velha (1889-1930) Conforme o historiador Rodrigo Trespach, as notícias falsas eram comuns na República Velha: Se, por um lado, os jornais contribuíam com notícias e denúncias de corrupção e fraudes eleitorais, por outro, eram responsáveis pela circulação de fofocas e informações falsas. Muitas redações não tinham repórteres e o próprio dono do jornal era o redator, não havia checagem de fontes e, muitas vezes, o que era publicado tinha como origem inimigos políticos e pessoais, contando quase sempre com o anonimato ou pseudônimos. "Quando noticiar não passava de uma tarefa eventual, a apuração não existia", escreveu o jornalista e historiador Juremir Machado. Foi o que ocorreu em 1921, quando o Correio da Manhã publicou cartas atribuídas a Artur Bernardes ofendendo o ex-presidente Nilo Peçanha e o Exército brasileiro. As cartas eram falsas, mas o fato desencadearia a revolta dos Tenentes, em 1922, dando início a uma série de conflitos que culminariam na Revolução de 30 — Trespach, Rodrigo (13 de maio de 2021). A Revolução de 1930: O conflito que mudou o Brasil. Rio de Janeiro: Harper Collins. p. 31 Dados As cinco principais plataformas sociais usadas para acessar notícias na última semana no Brasil segundo o relatório Trust in News, Segundo estudo do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (GPOPAI) da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas difundiam notícias falsas sobre política no Brasil em 2017.[2] Uma pesquisa do IBOPE para analisar o grau de confiança do brasileiro nas redes sociais como fonte para a escolha do melhor candidato em 2018 revelou que para 36% dos brasileiros, as mídias sociais teriam muita influência nesse processo, enquanto 56% disseram que elas teriam apenas “algum” potencial. A pesquisa da GlobeScan[7] realizada entre janeiro e abril de 2017 para a BBC, entrevistou mais de 16 mil adultos em 18 países, revelou que o Brasil é a nação que mais se preocupa com a veracidade das noticias nos meios digitais em dentro do grupo estudado, com (92%) dos entrevistados respondendo que se preocupavam com a veracidade das notícias. Outros países que também tiveram uma taxa de preocupação elevada foram Indonésia (90%),e a Nigéria (88%). Já os países que obtiveram os níveis relatados de preocupação com o conteúdo falso da Internet mais baixos foi a Alemanha com (51%), e o México com (65%). Na mesma pesquisa, também perguntou-se se o acesso à Internet deveria ser um direito fundamental de todos os cidadãos, o Brasil obteve (96%) enquanto a média de todos países foi (83%). Quanto à questão da não regulamentação da internet o Brasil foi um dos que mais se opunham à qualquer tipo de regulação na internet com (72%), ficando atrás apenas da Grécia (84%),e da Nigéria (82%). O relatório Trust in News, resultado de um estudo feito pela Kantar,[8] no Brasil, EUA, Reino Unido e França, mostrou que a credibilidade dos veículos impressos e canais de TV e rádio era mais resistente ao descrédito do público em detrimento às redes sociais. No Brasil, 69% dos entrevistados acreditam no impacto das notícias falsas no processo de eleição. As cinco principais plataformas sociais que foram usadas para acessar notícias na última semana que os entrevistados no Brasil responderam foram o Facebook com (86%), Whatsapp com (59%), Youtube com (53%), Google+ com (35%) e o Instagram com (31%). Combate de notícias eleitorais falsas Com a reforma política aprovada pelo Congresso Nacional foi atribuída ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a incumbência de regulamentar uma série de questões relacionadas à propaganda eleitoral, como a veiculação de conteúdos eleitorais na internet e o uso de ferramentas digitais.[9] A legislação permite que, a pedido do candidato, partido ou coligação, a Justiça Eleitoral possa determinar a suspensão do acesso a conteúdos que violem disposições legais. Também proíbe a veiculação de conteúdos de caráter eleitoral por perfis falsos. Analisando o impacto negativo das notícias falsas nas eleições, como ocorreu nas campanhas a candidatura a presidência americana e francesa, de Hillary Clinton e Emmanuel Macron.[10][11] Associado ao que já ocorreu no Brasil, embora em uma escala muito menor, em 2013 a disputa presidencial já estava sendo influenciada pelas notícias falsas. Boatos sobre o encerramento do programa Bolsa Família atingiram a então presidente Dilma Rousseff, levando centenas de beneficiários às agências da Caixa Econômica Federal. Na época, a Policia Federal concluiu que o boato “foi espontâneo”, “não havendo como afirmar que apenas determinada pessoa ou determinado grupo o tenha gerado”.[12][13] Nesse intervalo de tempo houve um grande crescimento no uso das redes sociais e smartphones, o que aumentaria bem mais a disseminação e alcance das notícias falsas nas próximas eleições .[14][15] "Hoje temos uma realidade de uso constante da Internet como arma de manipulação do processo político. E isso vem crescendo rapidamente, com a utilização, cada vez maior, das chamadas fake news. E essa é a realidade com que teremos de lidar e combater no ano que vem. A prática é uma estratégia antiga dos marqueteiros, que sabem que a recepção de conteúdo pelos seres humanos é seletiva e que, por isso, precisam adaptar o discurso de seus candidatos para elevar seu alcance e, em última instância, conseguir votos. A diferença é que, com a Internet e as redes sociais, a disseminação dessa informação passou a ser mais rápida, mais fácil, mais barata e em escala exponencial”, disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, (7/12/2017), na abertura do I Seminário do Fórum Internet e Eleições – Um desafio Multidisciplinar. O evento teve como objetivo discutir as novas regras eleitorais e a influência da Internet nas Eleições de 2018, em especial o risco das fake news e o uso de robôs na disseminação das informações.[16] Também no evento, o ministro de Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab e o coordenador da CGI, Maximiliano Martinhão trataram da tecnologia nas eleições, exposição constantemente a notícias falsas e formas de combatê-las. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) montou uma força-tarefa para combater a proliferação de noticias falsas nas disputas eleitorais do próximo ano. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, instituiu o Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições que vai propor medidas para barrar a propagação de notícias falsas nas eleições de 2018. Entre as competências do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições estão o desenvolvimento de pesquisas e estudos acerca das regras eleitorais e os impactos da internet nas eleições.[17] Composto inicialmente por dez membros, entre eles o secretário-geral da presidência do TSE, Luciano Fuck, o general Jayme Octávio de Alexandre Queiroz, do Centro de Defesa Cibernética do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro, e o diretor adjunto da Abin, Frank Márcio de Oliveira, já se reuniram e discutiu-se a necessidade da criação de cartilhas e campanhas de conscientização para a população, elaboração de manuais de procedimentos para os juízes eleitorais, criação de um ambiente virtual. E propor ações e metas voltadas ao aperfeiçoamento das normas.[18] O futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, falou que é a favor da criação de mecanismos de obstrução à disseminação de "fake news", para que elas não venham a influenciar negativamente e prejudicar candidaturas legítimas.[19] Com as medidas que o TSE vem tomando para barrar o avanço de "fake news" nas eleições de 2018, entidades da sociedade civil reagiram à inclusão do Exército, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal nos debates, receosos que haja margem para excessos e ameaça à liberdade de expressão. Podendo gerar vigilantismo exacerbado, em um processo autoritário.[20] No dia 23 de julho, o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal fez a sua primeira condenação por fake news. O desembargador eleitoral Carlos Divino Vieira Rodrigues ordenou que o Facebook retirasse uma publicação sem fontes feita pelo ator Alexandre Frota sobre o deputado Chico Leite, pré-candidato ao senado.[21] Notícias falsas durante a pandemia de COVID-19 Ver também: Desinformação na pandemia de COVID-19 Ao longo da pandemia de COVID-19 no Brasil tem-se registrado um grande volume de notícias falsas a respeito da doença, que se disseminam através das mídias digitais e se colocam como um obstáculo adicional ao enfrentamento da Crise sanitária.[22][23] Muitas dessas notícias são profissionalmente criadas por grupos organizados de forma a transmitir confiabilidade[22][23] e são financiadas por indivíduos e instituições com motivações comerciais, políticas ou outras.[23] A camada menos instruída da população é o alvo mais vulnerável e,[23] segundo o Ministério da Saúde, boatos espalhados na Internet têm reduzido o alcance das campanhas de vacinação promovidas no país desde 2016.[24] Os conteúdos falsos visaram primeiramente confundir sobre aspectos sanitários da doença, disseminando falsas técnicas de prevenção, diagnóstico e cura. Depois, concentraram-se em descredibilizar o isolamento social e em colocar em evidência o impacto negativo sobre a economia,[25] assim, foram veiculadas falsas informações como a que a Organização Mundial da Saúde teria revogado as recomendações de isolamento social e dados falsos sobre outros países, como Estados Unidos, Itália, Países Baixos e Suécia, de forma a corroborar o relaxamento do isolamento.[25]No início de 2020, ganharam grande repercussão as recomendações feitas em vídeo por um "químico autodidata" de substituir o álcool gel pelo vinagre como antisséptico para a mãos,[26] de forma que o Conselho Federal de Química pronunciou-se em nota oficial sobre a eficácia das soluções alcoólicas e repudiando a ação de um profissional não qualificado e não registrado.[26][27] As informações enganosas também são usadas para descredibilizar informações científicas e o sistema público de saúde, conduzindo a população a se proteger menos eficazmente contra a doença.[28] Além disso, outras postagens almejam a disseminar o alarde público[23] e o medo da vacina, com alegações de que os imunizantes causariam alterações no DNA, levando a cânceres, transmitiriam HIV e ou próprio coronavírus[29] e que levariam à infertilidade feminina[30][31] e à masculina.[32] Populações indígenas são especialmente suscetíveis às informações falsas.[33] Frequentemente, o acesso à Internet fica limitado aos pacotes gratuitos oferecidos pelas operadoras de telefonia, que normalmente incluem Facebook, Instagram e WhatsApp.[34] A ideia de que o DNA pode ser alterado ou que essa população estaria sendo usada como cobaia para testes do imunizante são as principais razões para os indígenas se recusar a tomar a vacina.[33]A oposição de Jair Bolsonaro à vacina é outro fator para os indígenas desconfiarem da vacinação. A fala do presidente com maior repercussão entre os povos indígenas foi "se você virar um jacaré, é problema de você (…) Se você virar o super-homem, se nascer barba em alguma mulher ou um homem começar a falar fino (...)".[34]Na cultura ameríndia, o animais são como seres humanos, sendo plausível que um homem se transforme em réptil.[33]Pastores evangélicos também se mostraram difusores do discursos antivacina, alguns deles tendo propagado a informação de que a vacina é dotado de um "chip do diabo".[33][34][35] No interior do estado de São Paulo, dois juízes distintos fundamentaram decisões contrárias às medidas sanitárias impostas por decretos municipais e estaduais com base em uma falsa declaração da Organização Mundial de Saúde. Segundo os magistrados, a OMS teria desrecomendado o lockdown no combate ao coronavírus e que não haveria comprovação sobre a eficácia do isolamento. A organização, contudo, nunca fez essa declaração e tem se posicionado publicamente pelas restrições sociais.[36] Diversas iniciativas foram criadas no mundo todo com esclarecer a população e combater a desinformação.[23] Rede sociais e de comunicações têm criado dispositivos para eliminar falsas informações sobre a doença.[37] O Ministério da Saúde elaborou uma página para desmentir notícias falsas e a Organização Mundial da Saúde abriu um canal de comunicação no WhatsApp para dirimir dúvidas em português.[25]Ainda não há provisão legal para combater as notícias falsas, mas "provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto" é contravenção conforme o artigo 41 da Lei de Contravenções Penais.[23] [38][39]

Notícia Falsa

Notícia falsa Nota: Não confundir com Noticiário satírico. Diagrama sobre como identificar notícias falsas da IFLA em português Notícias falsas (sendo também muito comum o uso do termo em inglês fake news) são uma forma de imprensa marrom que consiste na distribuição deliberada de desinformação ou boatos via jornal impresso, televisão, rádio, ou ainda online, como nas mídias sociais.[1] Este tipo de notícia é escrito e publicado com a intenção de enganar, a fim de se obter ganhos financeiros ou políticos, muitas vezes com manchetes sensacionalistas, exageradas ou evidentemente falsas para chamar a atenção.[2][3] O conteúdo intencionalmente enganoso e falso é diferente da sátira ou paródia. Estas notícias, muitas vezes, empregam manchetes atraentes ou inteiramente fabricadas para aumentar o número de leitores, compartilhamento e taxas de clique na Internet.[2] Neste último caso, é semelhante às manchetes "clickbait", e se baseia em receitas de publicidade geradas a partir desta atividade, independentemente da veracidade das histórias publicadas.[2] As notícias falsas também prejudicam a cobertura profissional da imprensa e torna mais difícil para os jornalistas cobrir notícias significativas.[4][5] O fácil acesso online ao lucro de anúncios online, o aumento da polarização política e da popularidade das mídias sociais, principalmente a linha do tempo do Facebook,[6][2] têm implicado na propagação de notícias deste gênero. A quantidade de sites com notícias falsas anonimamente hospedados e a falta de editores conhecidos também vêm crescendo, porque isso torna difícil processar os autores por calúnia.[7] A relevância dessas notícias aumentou em uma realidade política "pós-verdade". Em resposta, os pesquisadores têm estudado o desenvolvimento de uma "vacina" psicológica para ajudar as pessoas a detectar falsas informações.[8][9] Além da disseminação de notícias falsas através da mídia, a expressão também define, em um âmbito mais abrangente, a disseminação de boatos pelas mídias sociais, por usuários comuns. Algumas vezes, isso pode ter consequências graves, como o notório caso ocorrido em 2014, do linchamento de uma dona de casa na cidade de Guarujá, no litoral do estado de São Paulo, Brasil.[10] Definição Fake news ("notícia falsa", em português) é um termo novo, ou neologismo,[11] usado para se referir a notícias fabricadas. O termo fake news originou-se nos meios tradicionais de comunicação, mas já se espalhou para mídia online. Este tipo de notícia, encontrada em meios tradicionais, mídias sociais ou sites de notícias falsas, não tem nenhuma base na realidade, mas é apresentado como sendo factualmente corretas.[12] Michael Radutzky, um produtor do show 60 Minutes da CBS[desambiguação necessária],[13] disse que seu show considera notícias falsas como "histórias que são comprovadamente falsas, têm um enorme tração [apelo popular] na cultura, e são consumidas por milhões de pessoas". Ele não inclui notícias falsas que são "invocadas por políticos contra os meios de comunicação sobre as histórias ou comentários que eles não gostam ".[14] Guy Campanile, também produtor de 60 Minutos, disse: "Estamos falando de histórias que são fabricadas do nada. De forma geral, criadas deliberadamente e que qualquer por qualquer definição sejam mentira."[14] A intenção e o propósito por trás da notícias falsas é importante. Em alguns casos, o que parece ser uma falsa notícia pode ser, na verdade, notícias de sátira, que usa o exagero e introduz elementos não verdadeiros com o objetivo de divertir ou fazer um ponto, em vez de enganar. Propagandas também pode ser falsas notícias.[2] Claire Wardle, do First Draft News, identifica sete tipos de notícias falsas[15]: 1. Sátira ou paródia ("sem intenção de fazer mal, mas tem potencial para enganar"). 2. Falsa conexão ("quando as manchetes, visuais das legendas não dão suporte a conteúdo"). 3. Conteúdo enganoso ("má utilização da informação para moldar um problema ou de um indivíduo"). 4. Contexto falso ("quando o verdadeiro conteúdo é compartilhado com informações falsas contextuais"). 5. Conteúdo impostor ("quando fontes verdadeiras são forjadas" com conteúdo falso). 6. Conteúdo manipulado ("quando informação genuína ou imagens são manipuladas para enganar", como fotos "adulteradas"). 7. Conteúdo fabricado ("conteúdo novo é 100% falso, projetado para enganar e fazer mal"). Em pesquisa realizada pela Kantar em 2017,[16] a definição de notícias falsas (fake news, no termo em inglês popularizado pelo presidente dos EUA, Donald Trump) ainda não era muito clara: 58% dos brasileiros entrevistados achavam se tratar de "uma história deliberadamente fabricada por um meio de comunicação", 43% pensavam que o termo se referia a "história divulgada por alguém que finge ser um meio de comunicação", 39% apontavam que seria "uma história que contém erro de informação" e 27% apostavam que seria uma "história tendenciosa".[17] Em uma análise mais direta, as notícias falsas seriam "imitações fraudulentas de gêneros jornalísticos, cujo objetivo é emprestar as marcas discursivas de uma instituição social dos Estados democráticos para levar o leitor a conferir maior credibilidade a seu conteúdo[18]". Identificação A Federação Internacional das Associações e Instituições de bibliotecária (IFLA) publicou um diagrama com dicas para ajudar as pessoas a identificarem notícias falsas (imagem da versão em português do diagrama a direita).[19] 1. Considere a fonte da informação: tente entender sua missão e propósito olhando para outras publicações do site. 2. Leia além do título: Títulos chamam atenção, tente ler a história completa. 3. Cheque os autores: Verifique se eles realmente existem e são confiáveis. 4. Procure fontes de apoio: Ache outras fontes que suportem a notícias. 5. Cheque a data da publicação: Veja se a história ainda é relevante e está atualizada. 6. Questione se é uma piada: O texto pode ser uma sátira. 7. Revise seus preconceitos: Seus ideais podem estar afetando seu julgamento. 8. Consulte especialistas: Procure uma confirmação de pessoas independentes com conhecimento. Há algumas instituições como "Aos Fatos" e International Fact-Checking Network (IFCN) que se propõem a checar notícias e julga-las como falsas ou verdadeiras. A IFCN faz uso de uma rede colaborativa e faz um treinamento de seus colaboradores para que possam validar as histórias.[20] O Facebook se comprometeu a ajudar seus usuários a identificar as notícias falsas,[21] e adicionou em cerca de 14 países uma seção com dicas sobre como reconhecer notícias falsas. Os leitores também estão se tornando mais céticos e atentos: uma pesquisa mostrou que mais de 3 em cada 4 leitores de notícias verificaram fatos em uma notícias de independente,[22] enquanto 70% reconsideraram compartilhar uma matéria por receio de que ela pudesse ser uma notícia falsa. Detecção automática O MIT desenvolveu um sistema de inteligência artificial que reescreve automaticamente frases da Wikipédia contendo informações obsoletas com pouca ou nenhuma intervenção humana, mantendo a linguagem semelhante à maneira como os humanos escrevem e editam. Portanto, o texto criado usando a IA não parecerá incomum em um parágrafo cuidadosamente criado.[23] O sistema de inteligência artificial pode ser usado para fins como detectar automaticamente notícias falsas.[24] História Repórteres com várias formas de "notícias falsas", de uma ilustração de 1894 por Frederick Burr Opper. Orson Welles explica para jornalistas a transmissão de A Guerra dos Mundos em 30 de outubro de 1938. Imagem intencionalmente enganosa de Hillary Clinton sobre uma foto de 1977 do reverendo Jim Jones, da igreja Templo do Povo. Notícias falsas não são uma exclusividade do século XXI. Através de toda a história há vários episódios em que rumores falsos foram espalhados tendo grandes consequências.[25] Por exemplo: O político e general romano Marco Antônio cometeu suicídio motivado por notícias falsas. Haviam falsamente dito a Marco Antonio que sua mulher, a Cleópatra também havia cometido suicídio. No século VIII a Doação de Constantino foi uma história forjada, em que supostamente Constantino havia transferido sua autoridade sobre Roma e a parte oeste do Império Romano para o Papa. Poucos anos antes da Revolução Francesa, vários panfletos eram espalhados em Paris com notícias, muitas vezes contraditórias entre si, sobre o estado de falência do governo. Eventualmente, com vazamento de informações do governo, informações reais sobre o estado financeiro do pais foram a público.[26] Benjamin Franklin escreveu notícias falsas sobre Índios assassinos que supostamente trabalhavam para o Rei George III, com o intuito de influenciar a opinião pública a favor da Revolução Americana.[26] Em 1835 o jornal The New York Sun publicou notícias falsas usando o nome de um astrônomo real e um colega inventado sobre a descoberta de vida na lua. O propósito das notícias foi aumentar as vendas do jornal. No mês seguinte o jornal admitiu que os artigos eram apenas boatos.[26] Hannah Arendt defendia que o totalitarismo massificou a desinformação.[27] Uma contribuição valiosa para a vitória de Eurico Gaspar Dutra na eleição presidencial de 1945 veio de Hugo Borghi, que distribuiu milhares de panfletos acusando o candidato Eduardo Gomes de ter dito: ''Não preciso dos votos dos marmiteiros''. O que Eduardo pronunciou na verdade, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 19 de novembro (menos de um mês antes do pleito, ocorrido em 2 de dezembro), foi: "Não necessito dos votos dessa malta de desocupados que apoia o ditador para eleger-me presidente da República".[28][29] Outros exemplos de fakes na história brasileira podem ser citados, como o Plano Cohen, as cartas falsas atribuídas a Artur Bernardes[30] e o fato de que até mesmo Tiradentes produziu falsas informações.[31] No decorrer da Guerra Fria, com o objetivo de confundir e induzir governos e órgãos de informações ocidentais ao erro, a inteligência soviética empregou estratégias conhecidas como Medidas ativas. Estas, usavam contrainformação, manipulação da mídia e desinformação.[32] Dentre as teorias conspiratórias criadas pela URSS para manipular e confundir a mídia e governos de países do ocidente, destacaram-se a operação INFEKTION,[33] que lançou sobre os EUA a culpa pela "criação" da AIDS, as acusações que presidente Kennedy foi assassinado por um complô tramado pela CIA e, que os os estadounidenses não pousaram na Lua.[32] Notícias falsas, forjadas pelos órgãos de inteligência soviéticos por meio de medidas ativas, revelaram-se tão convincentes que algumas ainda continuam recebendo crédito no século XXI.[32] Entre esses e muitos outros exemplos é possível perceber que esse é um recurso que foi amplamente usado na história, muitas vezes com o propósito de beneficiar alguém ou algum movimento social.[26] Século XXI No século XXI, o uso e impacto das notícias falsas se tornou amplo, assim como o uso do termo. Além de ser usado para criar histórias inventadas para enganar os leitores é um recurso usado para aumentar a quantidade de leitores online e assim aumentar os lucros dos sites. O termo também passou a ser usado para sites de notícias de sátira, que não tem o propósito de enganar, mas fazer comédias sobre eventos reais compartilhados na mídia tradicional.[34][35] No Brasil um bom exemplo de site de sátira é o Sensacionalista. Em fevereiro de 2017 o presidente americano Donald Trump deu uma nova evidência as fake news acusando um repórter da CNN de produzir notícias falsas e se recusando a responder sua pergunta em uma conferência de imprensa.[36] Atualmente notícias falsas ficam populares rapidamente com o auxilio de redes sociais como Facebook e Twitter muitas vezes chegando aos trend topics.[37] Essas notícias quando não patrocinadas por motivos políticos são financiadas pela "industria de cliques" que grandes plataformas de propaganda digital como o Google AdSense criaram.[38] Sites podem ganhar dinheiro baseado em cliques nas propagandas, e para aumentar suas taxas de cliques e frequentadores de suas páginas publicações são feitas com manchetes chamativas muitas vezes distorcendo o texto publicado ou com mentiras.[39] Por exemplo, não é incomum sites de fofoca inventarem a morte de alguma celebridade para atrair leitores.[40] É importante analisar como e porque notícias falsas se espalham facilmente nas redes sociais. Elas são geralmente apelativas emocionalmente, ou reforçam algum ideal politico ajudando a reforçar crenças e por isso são amplamente compartilhadas e comentadas antes mesmo que os usuários chequem as fontes das notícias.[39] Outro efeito realçado nas redes sociais é o de Câmara de eco,[41] em que pessoas se isolam de grupos com ideais diferentes evitando assim o contraponto de ideais que possam vir a revelar a falsidade de algumas notícias. Os presidentes Trump (EUA) e Bolsonaro (Brasil) são alvo de críticas em relação à divulgação ou compartilhamento de notícias falsas e/ou perigosas. Empresas como o Google e Facebook vêm sendo acusadas[42][43] como umas das responsáveis por facilitar a disseminação das notícias falsas. O Facebook com seus algoritmos de busca e o google com seu engenho de busca são hoje as principais formas de jovens terem acesso a notícias em seu dia a dia.[44] Ambas empresas se comprometeram recentemente a combater esse problema,[45][46] o Google por exemplo bloqueou alguns sites que ele julgou como de notícias falsas de suas redes de anúncios bloqueando assim a fonte de renda dos mesmos, além disso adicionou uma nova função na sua ferramenta de busca de notícias.[21] Durante a crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19, Twitter, Instagram e Facebook bloquearam publicações de Jair Bolsonaro para evitar a difusão de "desinformação passível de causar danos físicos às pessoas" e de "conteúdos que se opõem às instruções vindas de fontes oficiais e que poderiam aumentar o risco de transmissão" do vírus.[47] Há um debate sobre a legitimidade das redes sociais para decidir quais são as notícias verdadeiras. Como elas controlam o acesso a informação de grande parte da população elas poderiam obter um poder de censura e de julgar o que é verdade e o que não é. A academia também já tenta procurar soluções de classificadores baseados em aprendizagem de máquina que possam identificar notícias verdadeiras e falsas. Há várias pesquisas nesse sentido, e na tentativa de fomenta-las em 2017 foi criado fake news challenge, uma competição em busca dos melhores classificadores automáticos de notícias. Grandes empresas de tecnologia têm combatido o que consideram notícias falsas; por exemplo, a Google está gastando US$25 milhões para combater notícias falsas em sua plataforma YouTube. O investimento pretende combater principalmente coberturas urgentes e de última hora.[48] Em 30 de julho de 2018, um serviço de checagem de notícias, denominado Fato ou Fake, foi criado no Brasil pela cooperação de Rede Globo, GloboNews, G1, O Globo, Extra, Época, Valor e CBN, com a intenção de combater a propagação de notícias falsas que não estejam presentes em suas representadas.[49][50] Impactos Cartaz sobre fake news. A disseminação de notícias falsas é facilitada pelo acesso em larga escala a mídias sociais, e seus impactos podem ser igualmente vastos. Mesmo nos casos em que a informação falsa é veiculada por erro involuntário ou com o simples intuito de provocar o humor, elas despertam no receptor uma reação baseada em falsidades, e que por isso mesmo é equivocada. Muitas vezes são divulgadas intencionalmente, com o objetivo de distorcer a realidade e criar uma realidade artificial, buscando induzir o receptor a assumir um determinado ponto de vista que contradiz os fatos.[51][52][53] Nas palavras de Rafael Zanatta, pesquisador da Universidade de São Paulo, "quem as cria promove a mentira e manipula os cidadãos em torno de interesses particulares e desonestos".[54] Numa escala ampla, a proliferação de notícias falsas tende a criar no público uma grande incerteza e desconfiança sobre o conhecimento em geral, passando a duvidar indiscriminadamente de todas as fontes de informação, não sabendo mais identificar a verdade e nem onde buscá-la.[55][54][56] Campanhas deliberadas de notícias falsas são um ataque direto ao direito à informação, e podem desacreditar a grande imprensa, os professores e os produtores acadêmicos de conhecimento legítimo, como os cientistas, historiadores e sociólogos. Podem arruinar reputações sólidas e criar falsos ídolos, podem causar danos a instituições, prejudicar a democracia e a cidadania, fortalecer preconceitos, fomentar teorias de conspiração, e influenciar artificialmente processos políticos, culturais, econômicos e sociais.[52][57][58][54] As notícias falsas repetidas constantemente podem adquirir um aspecto de verdade diante do público, e seus efeitos podem ser persistentes. Estudos científicos mostram que mesmo depois de confrontadas com a verdade, muitas pessoas influenciadas por notícias falsas continuam mantendo opiniões errôneas.[59] O efeito é ampliado porque a psique humana tem a tendência de buscar a confirmação daquilo em que acredita e desqualificar aquilo que se choca contra suas convicções,[53][56] e está sujeita ao "comportamento de manada", ou seja, o deixar-se levar em massa por um influenciador poderoso, sem que as ações passem pelo crivo da crítica e da lógica. Na explicação de Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, "se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso".[60] Um estudo desenvolvido por pesquisadores do MIT, analisando mais de 120 mil sequências de notícias no Twitter entre 2006 e 2017, concluiu que notícias falsas se espalham mais depressa, vão mais longe, atingem mais pessoas e tem uma probabilidade muito maior de serem redistribuídas do que as verdadeiras.[51] As notícias falsas são um componente importante no conceito de pós-verdade, que caracteriza um contexto onde os fatos objetivos têm um menor poder de moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais, e onde qualquer coisa pode se tornar "verdade", conforme os interesses dos indivíduos ou grupos que controlam a informação.[53] Na reflexão do filósofo Janine Ribeiro, "essa tendência traz um elemento triste. Não é apenas falar uma mentira. Ao dizer 'pós', é como se a verdade tivesse acabado e não importa mais. Essa é a diferença entre pós-verdade e todas as formas de manipulação das informações que tivemos antes". Para o professor da USP Eugenio Bucci, referindo-se à esfera da política, "a ideia contida aí é relativamente simples: a política teria rompido definitivamente com a verdade factual e passa a se valer de outros recursos para amalgamar os seguidores de suas correntes. É como se a política tivesse sucumbido ao discurso do tipo religioso e se conformado com isso."[61] É um exemplo do vasto impacto potencial das notícias falsas a negação da realidade do aquecimento global, levando à adoção de planos econômicos que privilegiam o uso de combustíveis fósseis, contradizendo o consenso científico que aponta esses combustíveis como a principal causa do aquecimento.[53] Também influenciaram o resultado das eleições norte-americanas de 2016[62][63] das eleições brasileiras de 2018,[64][65] e o resultado do plebiscito que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit),[66][67] apenas para citar alguns exemplos recentes de grandes repercussões.

Manipulação Da Mídia

Manipulação da mídia A manipulação da mídia ou manipulação da informação veiculada pela mídia refere-se ao uso de táticas ou técnicas de apresentação da informação transmitida pelos meios de comunicação, de modo a favorecer interesses de determinada parte. Origem Embora os jornalistas sejam os gestores diretos do material informativo, nem sempre se pode atribuir a eles a origem ou a responsabilidade nos casos de manipulação dos meios de comunicação de massa. Frequentemente, o fluxo de informação tem como origem organizações complexas (órgãos de governo, empresas privadas, instituições científicas) dotadas de uma competência específica e, portanto, não passíveis de verificação imediata.[1] Geralmente essas organizações são dotadas de spin doctors, autorizados a relacionar-se diretamente com a imprensa. Embora também possam estar sujeitas a obrigações de independência ou de imparcialidade (como é o caso dos órgãos da administração pública), as atividades de divulgação de informações dessas organizações não são submetidas ao código deontológico do jornalista; portanto, algumas vezes, a manipulação da informação tem origem fora dos órgâos de imprensa. Padrões de manipulação Segundo Perseu Abramo, é possível distinguir e observar pelo menos quatro padrões de manipulação da informação presentes na imprensa brasileira, em geral, e mais um, específico do telejornalismo: [2] 1. Padrão de ocultação 2. Padrão de fragmentação 3. Padrão da inversão 1. Inversão da relevância dos aspectos. 2. Inversão da forma pelo conteúdo. 3. Inversão da versão pelo fato. 4. Inversão da opinião pela informação. 5. Padrão da indução. 6. Padrão global ou o padrão específico do jornalismo de televisão e rádio. Táticas As táticas de manipulação da informação veiculada pela mídia incluem desde o uso de falácias lógicas e outros artifícios retóricos, passando por técnicas de propaganda e de manipulação psicológica, até a pura e simples fraude. Frequentemente envolvem a omissão de dados e a exclusão de opiniões divergentes, com a finalidade levar determinados argumentos ao descrédito; outras vezes, procura-se desviar a atenção do público mediante um excesso de oferta de informações sobre diversos assuntos. Vários métodos de manipulação dos meios de comunicação de massa baseiam-se na distração, assumindo-se o pressuposto de que o público tem um limiar de atenção restrito. Um exemplo disso é a manipulação de gráficos de barras, frequentemente utilizados pela televisão. Nesse caso, podem ser usadas barras de tamanho não correspondente aos números (que são verdadeiros), na esperança de que o telespectador (um "Homer Simpson", nas palavras de William Bonner[3]) não perceba a falcatrua. A veiculação de propaganda não comercial também é uma tática utilizada por grupos de interesse, partidos políticos, governos e movimentos religiosos, para difundir uma causa ou ideias e influenciar a opinião pública.[4][5] Grandes empresas, assim como os governos, podem controlar a informação veiculada pela mídia de um país. Em alguns países, grandes corporações multinacionais são proprietárias de estações de rádio e televisão.[6] Ainda que aumente o número de publicações nos diferentes canais de distribuição (jornais, revistas, rádio, televisão e, especialmente, Internet), verifica-se, paralelamente, uma crescente Concentração de propriedade da mídia, sobretudo graças às fusões de empresas, tanto aquelas ligadas à mídia convencional, como as que operam os principais serviços da Internet.[7][8] Referências 1. (em italiano) Alcune ragioni per sopprimere la libertà di stampa. Laterza, 1995, pp. 26-31. 2. ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2016 ISBN: 978-85-5708-008-9 (disponível para download) 3. «Leia nota de Bonner sobre caso Homer». Folha de S. Paulo. 6 de dezembro de 2005. Consultado em 28 de maio de 2018 4. (em inglês) «Non-commercial Advertising». Business Dictionary. 2015 5. (em italiano) Marco Benadusi, Il falso nell’epoca della sua riproducibilità tecnica. Mondoperaio nº 4, 2017, p. 8. 6. (em inglês) Monopoly Media Manipulation. Michael Parenti Political Archive. Maio de 2001. 7. Efeitos da globalização e da sociedade em rede via Internet na formação de identidades contemporâneas. Por Marcelo D. Prates da Silveira. Psicologia: ciência e profissão, vol. 24, nº 4. Brasília dezembro de 2004. ISSN 1414-9893 8. Media Conglomerates, Mergers, Concentration of Ownership. Por Anup Shah. Global Issues, 2 de janeiro de 2009.

LAVAGEM CEREBRAL

EQUILÍBRIO Cuidar da mente para uma vida mais harmônica EQUILÍBRIO Podemos sofrer lavagem cerebral? Se sim, estamos em risco? Quem nunca ouviu alguém dizer que fulano mudou tão radicalmente sua forma de pensar, ver o mundo, que parece ter sofrido uma lavagem cerebral? Embora pareça que o cérebro foi lavado com água e sabão e todas as convicções do sujeito escoaram pelo ralo, essa expressão não deve ser entendida de maneira literal. Lavagem cerebral, reforma do pensamento, ou ainda reeducação forçada são, na verdade, sinônimos para manipulação, persuasão, coerção. No passado, durante guerras, acreditava-se que com torturas físicas e psicológicas se era capaz de mudar crenças, atitudes e comportamentos de prisioneiros, fazendo-os confessar crimes, sentirem-se culpados e torná-los descrentes de seus ideais.... . Hoje, o entendimento é de que estando extremamente vulneráveis e em perigo mortal, podemos agir completamente diferente do nosso normal. Mas não há consenso de que a lavagem cerebral funcione, deixando-a mais para a ficção, como no filme "Laranja Mecânica", no qual o líder de um grupo violento é submetido ao método para se tornar pacífico.... Agora, pessoas podem, sim, ser influenciadas por outras sorrateiramente, sem que percebam. Todos estão sujeitos a isso, sobretudo os mais fragilizados, com problemas, que não se sentem parte de uma comunidade, ou que preferem achar culpados a ter de se esforçar e arriscar soluções. O processo para esse tipo de lavagem ocorrer é gradual, com muito consumo de uma mesma informação, teorias e interação com pessoas que pensem igual, levando a uma radicalização. Como o cérebro é "lavado" Nossas mentes, instintivamente, buscam por padrões em tudo, o tempo todo, e quando isso dá certo é difícil de ignorar. Sabe quando se enxerga o formato de um rosto numa fruta ou numa rocha, por exemplo? ... É exatamente isso. Para sobreviver, nossos ancestrais precisavam associar sons na mata com a possível presença de um predador, cheiros e tons estranhos com algo que pudesse fazer mal à saúde e por aí vai. Sem esse mecanismo, estaríamos enrascados. O lado ruim é que ele pode ser manipulado. Assim, ao se deparar com alguém que tenha um jeito, uma forma de pensar diferente, desagradável, pode-se achar que isso represente uma ameaça e requer ser combatido. "Ainda mais quando se deseja pertencer a uma seita, um partido, uma ideologia. E pessoas que se unem movidas por reações emocionais correm risco de parar de refletir, de se questionar, é o famoso Maria vai com as outras", aponta Liliana Seger, doutora em psicologia pelo IPUSP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo). Nessas condições, é muito fácil se considerar um revolucionário, um ser especial, com poder para mudar tudo, além de ter fortes empolgação e convicção. A mudança no comportamento ocorre porque a pessoa aceita e passa a agir de acordo com os estímulos recebidos, como se não tivesse mais atitudes próprias, como se os pensamentos não fossem mais dela. Isso pode começar a vir por meio de mensagens subliminares e extensivas de gente influente. Negacionistas sofrem essa "lavagem"? Quando, de maneira generalizada, a sociedade perde a confiança em crenças, instituições científicas, governos, veículos de comunicação, independentemente dos motivos que possam estar por trás, grupos extremistas e conspiracionistas ganham força e persuadem com mais facilidade. O objetivo deles é muito simples: dividir as coisas e pessoas em lados opostos por meio de narrativas simples e acessíveis, acompanhadas de uma explosão de informações. "Pela repetição, gera-se condicionamento, pensamento fixo, convicção de que tal coisa agora seja melhor do que antes, ou vice-versa. São utilizados métodos agressivos, propagandas, e o sujeito se deixa levar por marketing, movimentos políticos, religiosos. Renuncia referências, mas não por desejar, por incapacidade de lidar com situações", diz Myriam Albers, psicóloga especializada pela Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) e da Clínica Maia (SP). E aí também entram as redes sociais, que reforçam a "lavagem", opinam as especialistas. Liliana Seger, do IPUSP, explica que palavras relacionadas a emoções e princípios individuais atraem muito mais nossa atenção do que as neutras, e quanto mais se procura, consome conteúdos fáceis de se indignar, sobretudo envolvendo boatos, opiniões partidarizadas, provocações, por conta dos algoritmos, mais redirecionados somos e presos a isso ficamos. Escapar exige empenho e ajuda Para não ser a próxima vítima de uma grande pressão externa que quer lhe reeducar para mudar seu senso de identidade interior, a primeira recomendação é se informar, sobre diferentes assuntos, mas com fontes confiáveis, e acompanhar também o que se passa ao redor do mundo. Como o cérebro gosta de padrões, respostas e histórias prontas, é necessário tirá-lo da zona de conforto e isso exige pensamento crítico, cético, curiosidade e investigação. Agora, se o cérebro foi "reprogramado" e o comportamento evoluiu para uma compulsão, por compras, pessoas, grupos, será necessário "desprogramá-lo". "Serão necessárias estratégias de psicologia/psiquiatria, usadas como quando se trabalha um vício, para modular a mente e fazer o dependente perceber que, embora haja prazer, aquilo é prejudicial, e fazê-lo mudar", informa Júlio Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião. Obsessões levam indivíduos transformados em marionetes a temerem ser abandonados por quem é igual ou está com eles. Por isso, quando se trata de amigos, familiares, não entre em embate, isso só piora o problema. Faça com que se sintam parte do seu grupo, para "resgatá-los", ajudá-los a compreender os fatores que os fizeram a se juntar a grupos específicos, ou ter ideias tão avessas. Só assim será possível reconstruir suas vidas e fazer as devidas reparações. Marcelo Testoni A lavagem cerebral, lavagem de cérebro, reforma de pensamento ou reeducação é qualquer esforço constituído visando a mudar certas atitudes e crenças de uma pessoa — crenças estas consideradas indesejáveis ou em conflito com as crenças e conhecimentos das outras pessoas — utilizando-se, para tal, de métodos agressivos, como cansaço, substâncias químicas e persuasão, aplicados sobre pessoas que estão privadas da livre determinação de sua vontade (como prisioneiros de guerra,[1] por exemplo). Por meio da lavagem cerebral, indivíduos passam a ter opiniões que não teriam se estivessem em condições de plena liberdade.[2][3] Motivos para a lavagem cerebral podem incluir o objetivo de afetar o pensamento e comportamento do indivíduo que o sistema de valores padrão considera indesejável. A lavagem cerebral é, atualmente, um elemento forte na cultura popular globalizada e, muitas vezes, é retratada como uma teoria conspiratória. Em 1987, a Câmara de Responsabilidade Social e Ética para a Psicologia (BSERP) da American Psychological Association (APA), provisoriamente, recusou o reconhecimento da lavagem cerebral, pela carência de informações científicas sólidas a seu favor, embora o debate continue em curso.[3] Terminologia As palavras "reeducar" e "reeducação" já existiam com vários sentidos desde 1808, mas foi na década de 1940 que passaram a expressar especificamente conotações políticas. A expressão "lavagem cerebral" foi utilizada pela primeira vez no idioma português na década de 1950. Formas anteriores de coação por persuasão ocorreram, por exemplo, durante a caça às bruxas e no decurso de dos julgamentos contra os "inimigos do Estado" na União Soviética, mas a expressão propriamente dita surgiu nas primeiras décadas da República Popular da China, sendo usada para uso interno na luta contra os "inimigos do povo" e invasores estrangeiros. O termo em chinês 洗脑 (xǐ não, literalmente "lavagem cerebral"), inicialmente, referia-se aos métodos coercivos de persuasão utilizados na 改造 (gǎi Zao, "reconstrução", "mudança", "alterar") dos padrões de pensamento feudal de cidadãos chineses. Já existia um termo semelhante no taoismo: "limpeza/lavagem do coração" (洗心, xǐ xin), que era utilizado porque os chineses acreditavam precisar estar "limpos" espiritualmente antes de realizar certas cerimónias ou entrar em determinados lugares santos, sendo que, em chinês, a palavra "心" (xin) também refere-se a alma ou espírito, contrastando com cérebro. O termo entrou em uso geral nos Estados Unidos e no mundo na década de 1950 durante a Guerra da Coreia (1950-1953) para descrever os métodos aplicados pelos comunistas chineses que resultaram em permanentes mudanças comportamentais em prisioneiros.[4] A expressão "lavagem cerebral" entrou em uso nos Estados Unidos para explicar por que, ao contrário das guerras anteriores, uma porcentagem relativamente elevada de soldados norte-americanos havia ido para o lado inimigo depois de ficar prisioneiros de guerra na Coreia. Posteriores análises determinaram que algumas das principais metodologias empregadas sobre eles durante a sua prisão incluía privação do sono e outras métodos de tortura psicológica destinadas a minar a autonomia dos indivíduos. Após a Guerra da Coreia, a expressão "lavagem cerebral" veio a aplicar-se a outros métodos de persuasão coercitiva e até mesmo para o uso eficaz das propagandas ordinárias e doutrinação. Lavagem cerebral nas massas O conceito de "lavagem cerebral" é, por vezes, aplicado em algumas sociedades onde o Estado mantém um controle sobre os meios de comunicação em massa e o sistema de ensino, e usa este controle para difundir uma propaganda particularmente intensa, que poderia "lavar o cérebro" de grandes camadas da população. Esta propaganda estatal visaria a influenciar o sistema de valores dos cidadãos e sua conduta, por meio de um discurso persuasivo buscando a adesão a seus interesses. A sua abordagem usa informação distribuída maciçamente com a intenção de apoiar uma determinada opinião política ou ideológica. Embora a mensagem possa ser verdadeira, ou incompleta, e não partidária, como uma desinformação, ela não apresenta uma imagem neutra e equilibrada da opinião em questão, que é sempre referida como assimétrica, subjetiva e emocional. A sua principal utilização é no contexto político, geralmente patrocinada por governos ou partidos para convencer as massas; secundariamente, refere-se a ela como a publicidade de empresas privadas.