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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O Que é Legalismo Religioso na Bíblia?

O Que é Legalismo Religioso na Bíblia? Daniel Conegero ------------------------------------ Antes de saber o que é o legalismo religioso de acordo com a Bíblia, primeiramente é importante entender o que significa ser uma pessoa legalista. O legalismo basicamente é uma fidelidade à lei, no sentido de haver um apresso estrito por um código legal. Então, num primeiro momento o legalismo parece ser algo bom, afinal geralmente presar pela legalidade é presar pela justiça. Mas também é possível que o legalismo acabe distorcendo a própria lei, desvirtuando o seu verdadeiro propósito e criando fundamentos que não existem a partir de interpretações pessoais da lei ou adições a ela. E é justamente dessa maneira que a Bíblia fala negativamente sobre o legalismo religioso. Quando a Bíblia aponta alguém como legalista, ela não está indicando que a pessoa tem um cuidado minucioso em observar a lei corretamente, mas que a pessoa distorce a lei, acrescenta novas exigências à lei, e aplica a lei de um modo que foge ao seu propósito original. E quando se trata de salvação ou condenação eternas, essa questão do legalismo toma uma proporção muito maior. Isso quer dizer que, em termos práticos, o legalismo religioso na Bíblia significa o ato de tentar manipular a lei de Deus em benefício próprio, fazer adições a essa lei e, principalmente, rejeitar a doutrina da graça de Deus. É dessa forma que várias pessoas são apresentadas na Bíblia como legalistas que precisavam de correção. Exemplos de pessoas legalistas na Bíblia Quando falamos em legalismo religioso na Bíblia, logo surgem dois exemplos principais: os fariseus e os judaizantes. Os fariseus formavam um grupo religioso entre os judeus que era conhecido por observar a lei mosaica em seus mínimos detalhes. Mas o rigor dos fariseus fazia com que eles se afastassem do verdadeiro significado e propósito da lei de Deus. Na verdade, os fariseus eram tão legalistas nesse sentido que eles adicionavam regras e tradições humanas sobre a lei de Deus. Então, uma vez que em suas interpretações eles apontavam para exigências que não faziam parte da lei autorizada por Deus, consequentemente eles acabavam trocando a lei de Deus por tradições humanas. Portanto, curiosamente o legalismo dos fariseus os afastavam da verdadeira lei de Deus. Já os judaizantes formavam um grupo que surgiu nos primeiros anos da Igreja Primitiva e que propagava a ideia de que os cristãos tinham de se enquadrar na observância dos costumes judaicos. Então, quando os gentios eram convertidos a Cristo, os judaizantes diziam que eles também tinham de se tornar judeus e cumpridores das leis cerimoniais de Israel se quisessem realmente pertencerem à comunidade da fé. Um exemplo claro do que pregavam os judaizantes, era a exigência da circuncisão para os cristãos gentios. A Bíblia reprova o legalismo religioso A Bíblia reprova tanto o legalismo dos fariseus quanto o legalismo dos judaizantes. Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus condenou o legalismo dos fariseus revelando que eles colocavam fardos pesados sobre os ombros dos homens que nem mesmo eles estavam dispostos a carregar (Mateus 23:4). Esse é um típico comportamento dos legalistas: condenar as pessoas por não fazerem aquilo que eles também não fazem. Na sequência, Jesus apontou que com o seu legalismo, os fariseus não estavam preocupados com a glória de Deus, mas apenas queriam o reconhecimento humano. Nesse ponto, é fácil perceber que Jesus mostrou que o legalismo e a hipocrisia estão intimamente ligados. Mais do que isso, Jesus ainda acusou os legalistas fariseus de fecharem o Reino de Deus diante das pessoas com suas tradições humanas que, ao invés de trazerem liberdade, traziam escravidão (Mateus 23:5-13). O legalismo religioso dos judaizantes também foi duramente combatido pelo apóstolo Paulo. Tal como os legalistas fariseus do tempo de Jesus, os judaizantes também ensinavam um tipo de salvação pelas obras. Os judaizantes tentavam fazer adições ao Evangelho, como se a obra de Cristo fosse insuficiente. Mas a partir do momento que apenas um único detalhe é modificado no Evangelho, esse deixa de ser o Evangelho de Cristo e passa a ser um falso evangelho. O perigo do legalismo religioso O legalismo religioso apresenta um perigo muito sério ao crente, uma vez que ele perverte o significado do que é ser obediente ao Senhor e nega a doutrina da salvação pela graça. Sim, a Bíblia ensina que os cristãos devem viver sempre de acordo com a vontade de Deus revelada. Mas a verdadeira obediência requerida pela Palavra de Deus tem em sua base o amor e a gratidão ao Senhor, e também a preocupação com a glória divina. Jamais a obediência cristã deve ser vista como um mecanismo para se obter o favor divino mediante obras meritórias. Portanto, o legalismo é um comportamento inimigo da graça de Deus. O legalismo não promove mudanças profundas, apenas deixa supostamente bonito o exterior ao produzir aparência de sabedoria e piedade (cf. Colossenses 2:23). É por isso que o legalismo não tem nada a ver com a santificação. Por mais rigoroso que o legalismo religioso possa ser, ele jamais será capaz de gerar relacionamento e comunhão com o Senhor ou comprar o favor divino. O legalismo já foi uma forte vertente do evangelicalismo brasileiro, perdeu forças, mas não morreu “Ele ainda está vivo e presente na igreja. Ainda é uma ameaça à saúde espiritual do povo de Deus por condicionar a salvação a atos, obras e comportamentos”. Trata-se de um tipo de religiosidade antagônica aos ensinos das Escrituras, definiu, porque “dá mais valor à forma do que à essência; mais importância à tradição do que à verdade; valoriza mais os ritos religiosos do que amor”. No texto, ele explicou que o legalismo é um termo usado pelos evangélicos “para descrever uma posição doutrinária que enfatiza um sistema de regras e regulamentos para alcançar salvação e crescimento espiritual”. Seus seguidores, continuou, acreditam que “é necessário obedecer a ditos e regulamentos com vistas à salvação”. Se você quer humilhar alguém na igreja, você simplesmente tem que usar aquela palavra com “L” quando fala com ou sobre essa pessoa. O número de vezes que um crente chamou outro crente de legalista é incalculável. O insulto geralmente ocorre quando alguém na igreja acredita que o outro disse ou fez algo que afeta a liberdade cristã. Como seu termo irmão, “fundamentalista”, o rótulo legalista tornou-se uma espécie de insulto religioso convencional em igrejas orientadas pela graça e centradas no evangelho. Devemos ser extremamente cuidadosos ao usar essa palavra ao falar com ou sobre os outros na comunhão da igreja. Pode ser que um crente simplesmente tenha uma consciência mais fragilizada ou mais flexível do que o outro (Rm 14–15). Além disso, aqueles que amam a lei de Deus, e procuram andar cuidadosamente de acordo com ela, estarão sempre suscetíveis a serem chamados de legalistas. Devemos nos proteger contra o descuido de uma acusação de legalismo. No entanto, devemos também reconhecer que o legalismo em variados perfis e formas está vivo e bem nas igrejas evangélicas reformadas, e isso também deve ser vigiado com a máxima determinação. A fim de evitar acusar falsamente um crente, a fim de evitar abraçar pessoalmente o legalismo e a fim de ajudar a restaurar um crente que caiu no legalismo, devemos saber como identificar esse mal recorrente tanto em suas formas doutrinárias quanto práticas. Legalismo Doutrinário O legalismo é, por definição, uma tentativa de acrescentar algo à obra completa de Cristo. É confiar em outra coisa senão em Cristo e em sua obra completa e permanente diante de Deus. A refutação do legalismo no Novo Testamento é primariamente uma resposta às perversões da doutrina da justificação somente pela fé. A maioria dos oponentes do Salvador eram aqueles que acreditavam que eles eram justos em si e por si mesmos, com base em seu zelo e compromisso com a lei de Deus. Os fariseus, saduceus e escribas exemplificavam, por suas palavras e ações, o legalismo doutrinário nos dias de Cristo e dos Apóstolos. Enquanto eles faziam apelos ocasionais à graça, eles se autojustificavam, truncavam e distorciam o significado bíblico da graça. O apóstolo Paulo resumiu a natureza do legalismo judaico quando escreveu: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10. 3,4). Compreender a relação entre a lei e o evangelho para nossa justificação é fundamental para aprender a evitar o legalismo doutrinário. As Escrituras ensinam que somos justificados pelas obras do Salvador, não pelas nossas. O último Adão veio para fazer tudo o que o primeiro Adão deixou de fazer (Rm 5. 12-21; 1Co 15. 47-49). Cristo nasceu “sob da lei, para remir os que estavam sob da lei” (Gl 4. 4,5). Ele veio para ser nosso representante a fim de cumprir as exigências legais da aliança de Deus, a saber, prestar a Deus obediência perfeita, pessoal e contínua em nome de seu povo. Jesus mereceu perfeita justiça para todos aqueles que o Pai lhe havia dado. Nós, através da união de fé com ele, recebemos um status de justiça em virtude da justiça de Cristo imputada a nós. Em Cristo, Deus provê o que ele próprio exige. As boas obras pelas quais Deus redimiu os crentes, para que pudéssemos caminhar nelas, de modo algum contribuem para nossa justificação. Elas são apenas a evidência de que Deus nos perdoou e nos aceitou em Cristo. No entanto, o legalismo doutrinário também pode penetrar em nossas mentes pela porta dos fundos da santificação. O apóstolo Paulo deixou claro em Gálatas 3. 1–4, que os membros da igreja na Galácia se deixaram enganar e acreditaram que sua posição diante de Deus dependia, em última análise, do que eles alcançaram “na carne”, na continuação de sua vida cristã. É possível, para nós, começarmos a vida cristã crendo em Cristo e em sua obra salvadora e, então, cairmos na armadilha de imaginar que é inteiramente nossa responsabilidade terminarmos o que ele começou. Na santificação, não menos do que na justificação, as palavras de Jesus são verdadeiras: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5). O legalismo doutrinário na santificação é as vezes alimentado por pregadores apaixonados que enfatizam o ensinamento de Jesus sobre as exigências do discipulado cristão ao mesmo tempo em que se divorciam deles ou minimizam o ensino apostólico sobre a natureza da obra salvadora de Cristo pelos pecadores. O renomado teólogo reformado, Geerhardus Vos, explicou a natureza dessa forma sutil de legalismo quando escreveu: “Prevalece ainda uma forma sutil de legalismo que roubaria do Salvador a sua coroa de glória, conquistada pela cruz, e faria dele um segundo Moisés, oferecendo-nos as pedras da lei em vez do pão da vida do Evangelho. . . [legalismo é] impotente para salvar”. Em Colossenses 2.20–23, o apóstolo Paulo toca em mais uma forma de legalismo doutrinário que entra pela porta dos fundos da santificação. Ele escreve: “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade”. Aqueles que abraçaram essa forma de legalismo doutrinário proíbem o que Deus não proibiu e ordenam o que ele não ordenou. Eles impõem a si mesmos e aos outros um padrão de santidade externa, ao qual Deus não estabeleceu em Sua Palavra. Essa é uma das formas mais predominantes e perniciosas de legalismo na igreja hoje. Muitas vezes vem na forma de proibições contra comer certos alimentos e beber álcool. Às vezes, insinua-se através de convicções pessoais sobre paternidade e educação. Legalismo Prático Existe outro tipo de legalismo contra o qual devemos estar atentos – o legalismo prático que pode, imperceptivelmente, assumir o controle de nossos corações. Por natureza, a aliança das obras está gravada em nossas consciências. Ainda que os crentes se tornaram novas criaturas em Cristo, eles ainda carregam consigo o velho homem – a velha natureza pecaminosa de Adão. O comportamento padrão da velha natureza é o de mentalmente se colocar novamente sob o pacto das obras. Estamos sempre em perigo de nos tornarmos legalistas práticos alimentando ou negligenciando o espírito legalista. É totalmente possível para um homem ou uma mulher ter uma mente cheia de doutrina ortodoxa, ao mesmo tempo que tem um coração cheio de autojustiça e orgulho. Podemos estar intelectualmente comprometidos com as doutrinas da graça e ter um “discurso vazio” quanto à liberdade que Cristo comprou para os crentes, ao mesmo tempo em que negamos isso por meio de nossas palavras e ações. Um espírito legalista é fomentado pelo orgulho espiritual. Quando um crente experimenta crescimento ou força no conhecimento espiritual, ele está em perigo de começar a confiar somente em sua experiência espiritual. Quando isso acontece, os legalistas práticos começam a desprezar os outros e julgar pecaminosamente aqueles que não experimentaram o que eles experimentam. Em seu sermão “Trazendo a Arca para Sião uma segunda vez”, Jonathan Edwards explicou que havia observado a realidade do orgulho espiritual e do legalismo prático entre aqueles que haviam experimentado o reavivamento durante o “Grande Despertamento”: “Há uma disposição excessiva nos homens, enquanto vivem, para fazer justiça ao que são em si mesmos, e uma disposição excessiva nos homens para fazer uma justiça de experiências espirituais, bem como outras coisas. . . um convertido é capaz de ser exaltado com altos pensamentos de sua própria eminência na graça”. Talvez o mais prejudicial de todos seja o modo pelo qual um espírito legalista pode se manifestar no púlpito. Um ministro pode pregar a graça de Deus no evangelho sem experimentar essa graça em sua própria vida. Isso, por sua vez, tende a alimentar um espírito legalista entre certos membros da igreja. A cura para o legalismo A graça de Deus no evangelho é a única cura para o legalismo doutrinário e prático. Quando reconhecemos o legalismo doutrinário ou prático em nossas vidas, devemos fugir para o Cristo crucificado. Ao fazê-lo, novamente começaremos a crescer em nosso amor por aquele que morreu para nos curar de nossa propensão a confiar em nossas próprias obras ou realizações. Precisamos diariamente ser lembrados da graça que cobriu todos os nossos pecados, nos proveu com a justiça que vem de fora de nós mesmos e nos libertou do poder do pecado. Só então poderemos seguir com alegria a santidade. Só então amaremos a lei de Deus sem tentar guardá-la para nossa justificação diante dele. O grito de um coração libertado do legalismo é este: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão”. (Gl 2. 20–21). ------------------------------------------------------------------------------------------------- PERGUNTA O que a Bíblia diz sobre o legalismo? RESPOSTA A palavra "legalismo" não pode ser encontrada na Bíblia. É um termo que os Cristãos evangélicos usam para descrever uma posição doutrinária que enfatiza um sistema de regras e regulamentos para alcançar salvação e crescimento espiritual. Legalistas acreditam que é necessário ter uma aderência estrita e literal a essas regras e regulamentos. De acordo com a doutrina ensinada na Bíblia, essa posição vai de encontro à graça de Deus. Aqueles que defendem uma posição legalista podem até deixar de entender o verdadeiro propósito da lei, principalmente da lei de Moisés no Velho Testamento, a qual é para ser um “professor” ou “tutor” para nos levar a Cristo (Gálatas 3:24). Em relação à disposição de alguns, legalismo é o contrário de ser gracioso, por isso até crentes podem ser legalistas. Somos ensinados, no entanto, a ser graciosos uns com os outros: "Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões" (Romanos 14:1). É triste dizer que alguns defendem sua posição escatológica de uma forma tão forte que acabam excluindo outras pessoas de sua comunhão antes de dar-lhes a chance de expressar uma opinião diferente. Isso também é legalismo. Muitos crentes legalistas de hoje cometem o erro de exigir uma aderência inadequada às suas interpretações bíblicas e até mesmo às suas tradições. Por exemplo, alguns acham que para serem espirituais eles precisam evitar cigarro, bebidas alcóolicas, danças, filmes, etc. A verdade é que evitar essas coisas não é garantia de espiritualidade. Para evitar cair no erro do legalismo, podemos começar a aplicar as palavras do apóstolo João: "Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo" (João 1:17). Lembre-se também de ser gracioso, especialmente aos irmãos e irmãs em Cristo. "Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster" (Romanos 14:4). "Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus" (Romanos 14:10). Uma conselho de precaução é necessário aqui. Enquanto precisamos ser graciosos uns com os outros e tolerantes do desacordo sobre assuntos disputáveis, não podemos aceitar heresia. Somos exortados a batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Judas 3). Se nos lembrarmos dessas diretrizes e então aplicá-las em amor e misericórida, estaremos protegidos contra o legalismo e heresia. "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo" (1 João 4:1-3). -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Você, como cristão, já foi acusado de legalismo? Essa palavra é frequentemente usada de forma errada na subcultura cristã. Por exemplo, algumas pessoas podem chamar João de legalista, porque o consideram como alguém intolerante. Mas o termo legalismo não se refere à intolerância. Na realidade, o legalismo se manifesta de muitas maneiras sutis. Basicamente, o legalismo implica tirar a lei de Deus de seu contexto original. Algumas pessoas parecem estar preocupadas na vida cristã em obedecer às regras e regulamentos ao conceber o cristianismo como uma série de coisas que devemos e não devemos fazer, um conjunto frio e mortal de princípios morais. Essa é uma forma de legalismo, em que a pessoa se preocupa apenas em guardar a lei de Deus como um fim em si mesma. Ora, Deus certamente se preocupa com o fato de seguirmos Seus mandamentos. No entanto, há mais na história que não ousamos esquecer. Deus deu leis como os Dez Mandamentos no contexto da aliança. Em primeiro lugar, Deus foi misericordioso. Ele redimiu Seu povo da escravidão no Egito e entrou em um relacionamento amoroso e filial com Israel. Apenas depois que esse relacionamento baseado na graça foi estabelecido, Deus começou a definir as leis específicas que são agradáveis a Ele. Tive um professor na pós-graduação que disse: “A essência da teologia cristã é a graça e a essência da ética cristã é a gratidão.” O legalista isola a lei do Deus que deu a lei. Ele não está tanto procurando obedecer a Deus ou honrar a Cristo, mas sim obedecer a regras que são desprovidas de qualquer relacionamento pessoal. Não há amor, alegria, vida ou paixão. É uma forma mecânica de cumprimento da lei que chamamos de externalismo. O legalista se concentra apenas em obedecer regras simples, e destrói o contexto mais amplo do amor e redenção de Deus no qual Ele deu Sua lei em primeiro lugar. Para entender o segundo tipo de legalismo, devemos lembrar que o Novo Testamento distingue entre a letra da lei (sua forma externa) e o espírito da lei. A segunda forma de legalismo separa a letra da lei do espírito da lei. Obedece à letra, mas quebranta o espírito. Existe apenas uma sutil distinção entre esta forma de legalismo e a mencionada anteriormente. Como alguém guarda a letra da lei, mas quebranta seu espírito? Suponha que um homem goste de dirigir seu carro na velocidade mínima exigida, independentemente das condições sob as quais ele está dirigindo. Se ele estiver em uma rodovia interestadual e a velocidade mínima indicada for de 60km/h, ele dirige nesse limite e não menos. Faz isso mesmo durante chuvas torrenciais, quando dirigir nessa velocidade mínima exigida realmente coloca outras pessoas em perigo, porque tiveram o bom senso de diminuir a velocidade e dirigir a 30 km/h para não derrapar ou aquaplanar. O homem que insiste em uma velocidade de 60 km/h, mesmo nessas condições, está dirigindo seu carro para agradar a si mesmo. Embora apareça para o observador externo como alguém que é escrupuloso em sua obediência cívica, sua obediência é apenas externa e ele não se importa com o que a lei realmente trata. Este segundo tipo de legalismo obedece aos aspectos externos enquanto o coração está longe de qualquer desejo de honrar a Deus, a intenção de Sua lei ou seu Cristo. Esse segundo tipo de legalismo pode ser ilustrado pelos fariseus que confrontaram Jesus sobre a cura no sábado (Mt 12:9-14). Estavam preocupados apenas com a letra da lei e evitavam qualquer ação que pudesse parecer trabalho para eles. Esses mestres perderam o espírito da lei, que era dirigida contra o trabalho comum que não é necessário para manter a vida e não contra os esforços para curar os enfermos. O terceiro tipo de legalismo acrescenta nossas próprias regras à lei de Deus e as trata como divinas. É a forma mais comum e mortal de legalismo. Jesus repreendeu os fariseus neste exato ponto, ao expressar: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.” Não temos o direito de criar restrições ao que Ele não restringiu. Cada igreja tem o direito de estabelecer suas próprias políticas em certas áreas. Por exemplo, a Bíblia não diz nada sobre refrigerantes no salão social da igreja, mas uma igreja tem todo o direito de regulamentar tais coisas. Mas quando usamos essas políticas humanas para vincular a consciência de uma forma definitiva e torná-las determinantes para a salvação de alguém, nos aventuramos perigosamente em um território que é apenas de Deus. Muitas pessoas pensam que a essência do cristianismo é seguir as regras corretas, mesmo as regras extrabíblicas. Por exemplo, a Bíblia não diz que não podemos jogar cartas ou tomar uma taça de vinho no jantar. Não podemos fazer desses assuntos o teste externo do cristianismo autêntico. Isso seria uma violação fatal do evangelho, porque substituiria a tradição humana pelos verdadeiros frutos do Espírito. Chegamos perigosamente perto da blasfêmia ao deturpar Cristo dessa maneira. Onde Deus deu liberdade, nunca devemos escravizar as pessoas com regras feitas pelo homem. Devemos ter o cuidado de combater essa forma de legalismo. O evangelho chama os homens ao arrependimento, santidade e piedade. Por causa disso, o mundo considera o evangelho ofensivo. Mas, ai de nós se aumentarmos desnecessariamente essa ofensa, e distorcer a verdadeira natureza do cristianismo, combinando-a com o legalismo. Visto que o cristianismo se preocupa com a moralidade, a retidão e a ética, se não formos cuidadosos podemos facilmente fazer essa mudança sutil de uma preocupação fervorosa pela moralidade piedosa para o legalismo. A acusação de “legalismo” formulada pelos evangélicos em geral tem sido muito comum nos dias de hoje. Se um crente vai à igreja todos os domingos, se evita a aproximação muito forte de incrédulos de vida torta, se foge de vícios e de excessos, se procura uma comunidade de fé que zele pela decência e pela ordem, se evita ter a boca suja, se condena o namoro promíscuo ou mesmo se repudia a prática homossexual, logo surge alguém apontando o dedo e dizendo: “Esse crente é um fanático legalista. Ele ainda não sabe que estamos na época da graça!”. Quando vemos essa postura difundida entre os cristãos por aí afora, parece que a única conclusão a que podemos chegar é que uma grande parcela do evangelicalismo moderno proclamou uma espécie de independência. Sim, uma independência em que as pessoas se dão o direito de não se submeter a Cristo e à sua Palavra nas esferas que julgam pesadas demais. E, pior: Essa gente proclamou a tal independência usando como base um conceito equivocado da graça, definindo-a como a liberdade concedida por Deus para que vivamos da forma como achamos melhor. Assim, imitando os falsos mestres condenados na Epístola de Judas, muitos crentes de hoje “transformam em libertinagem a graça de nosso Deus” e, como consequência prática disso, rejeitam a soberania única do nosso Senhor Jesus Cristo sobre as suas vidas (Jd 4). Tendo se afastado das lições que ouviram no início da vida cristã, eles começaram a pensar que a graça divina confere a todos uma carta branca para que vivam como bem entendem, livres de quaisquer princípios que, porventura, os restrinja ou os condene em algum sentido (Jd 4). Com a cabeça cheia dessas ideias e jamais sendo corrigidos (uma vez que nada de proveitoso emana dos púlpitos a que assistem), taxam, enfim, de legalismo qualquer forma de zelo ou de obediência cristãos, acreditando que, caso acolham modelos rigidamente bíblicos de vida, serão oprimidos pela necessidade de negar suas ideias e desejos pessoais. É triste, mas proclamando sua independência, esses crentes perderam de vista a figura de “servo humilde do Senhor” que deve caracterizar a jornada de todo crente nesse mundo. De fato, esqueceram-se de que não são senhores de suas vidas, não tendo o direito de criar seus próprios princípios, valores e modos de vida. Esqueceram-se de que, estando submetidos a uma vontade celeste soberana, precisam acolher tudo que ela ordena em termos de como devem pensar, falar e agir. Sinceramente, eu prefiro pensar que as pessoas que se incomodaram com a postagem da minha filha não se encaixam em nada disso. Prefiro pensar que elas simplesmente tiveram uma reação impensada, movida por qualquer detalhe que as tenha chateado. Prefiro, sim, pensar que elas são zelosas de cada detalhe das Escrituras, exatamente como ensinaram os crentes antigos, aqueles que conhecemos quando criança. Prefiro acreditar, enfim, que o cristianismo sem senhorio, desfigurado pelos conceitos seculares que fazem barulho por aí (como o feminismo que odeia a figura da dona de casa “oprimida”), jamais tenham se infiltrado em seus corações, pois quando o crente descuidado acolhe tais coisas, tudo que recebe em troca é frieza espiritual, insatisfação no coração, vazio na alma e, muitas vezes, vergonha e escândalos na vida. Ah, eu escrevi, escrevi, escrevi e não respondi à pergunta que encabeça este texto. Bom, segue aqui a resposta: Legalismo é a visão teológica que atribui a salvação eterna à estrita observância de regras. Por outro lado, viver como crente zeloso, sujeito aos ensinos e princípios da Palavra de Deus tem outro nome: “Obediência”.

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