terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
O Galo Que Cantou Quando Pedro Negou Jesus Não Era Uma Ave?
Mateus 26.34 Jesus respondeu: "Eu lhe digo a verdade: esta mesma noite, antes que o galo cante, você me negará três vezes". Essa profecia foi proferida três vezes: (1) João 13:38 , relativo ao fato, não ao tempo; (2) Lucas 22:34 , na sala de jantar; (3) e por último, Mateus 26:34 ( Marcos 14:30 ), no Monte das Oliveiras.
Existia uma lei judaica que proibia a criação de galos em Jerusalém. Esta lei estava descrita no tratado mishnar.
Explicação
Mishnar* era um tratado de lei judaica que proibia a criação de galos em Jerusalém, por causa das coisas santas. A lei também proibia que sacerdotes criassem galos em qualquer lugar da terra de Israel. De fato, havia uma regra na lei judaica que era ilegal ter galos e galinhas nas cidades santas por questões higiênicas. Jerusalém era tida como uma cidade santa e as galinhas sujariam a cidade.
Passagem bíblica
Na Bíblia, Jesus disse a Pedro: "Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes".
O que a passagem quer dizer?
Algumas pessoas questionam como a passagem bíblica pode dizer sobre o cantar do galo, se não havia galos perto do local da crucificação de Jesus. Inventaram uma explicação e dizem que era o toque de trombeta para troca da guarda romana. Em Marcos 13.35, a expressão “cantar do galo “ possui um sentido cronológico: “Vigiais, pois, porque não sabeis quando virá o Senhor da casa; se à tarde (1ª vigília: das 18h às 21h), se a meia-noite (2ª vigília: das 21h às 0h), se ao cantar do galo (3ª vigília: das 0h às 3h), se pela manhã (4ª vigília: das 3h às 6h)”. Mas o que não dizem é que, em Jerusalém moravam além de judeus, romanos, e vários grupos que não concordavam com essa lei; existiam os herodianos, publicanos, meretrizes, pecadores de todos os tipos de pecados. E com certeza foi um galo de pena e bico. Mas será que o galo e a galinha eram conhecidos nos tempos de Jesus?
A resposta é sim! Em umas de suas mais impressionantes palavras sobre Jerusalém, Jesus usa exatamente esse animal como pano de fundo de Sua fala. Não seria natural Jesus usar um bicho desconhecido para trazer ensinos: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mateus 23:37).
Observe que temos a clara menção da cena clássica da mãe galinha toda zelosa pelos seus filhotinhos. De onde Jesus tirou essa cena? De algo desconhecido? Evidente que não!
Havia também no Novo Testamento o uso do canto do galo como um indicativo de um determinado horário, vejamos: “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã” (Marcos 13:35).
Observe que nesse texto o canto do galo é situado entre meia noite e o amanhecer. Como o galo costuma cantar antes da chegada do amanhecer, nesse texto possivelmente se refira ao horário da madrugada, possivelmente a terceira vigília da noite (entre meia noite e três da manhã).
Então, nesse contexto aqui, sim, “cantar do galo” se refere a um horário. Vejamos agora o caso de Pedro.
Feitas essas três observações, agora vamos ao texto onde Jesus diz que Pedro iria negá-lo: “Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes” (Marcos 14:30).
Alguns dizem que esse texto está fazendo menção de um tipo de toque que os romanos davam na madrugada para marcar qual era o horário (parecido com aqueles relógios com sinos que soam em algumas igrejas).
Dizem alguns, então, que esse galo mencionado por Jesus não era uma ave, pois os judeus não podiam ter galinheiros em Jerusalém. Vamos analisar se isso é verdade?
O Talmude (que é um comentário sobre as leis judaicas) diz que os judeus eram proibidos de ter galináceos, pois larvas de insetos que procriavam nos excrementos das galinhas facilitavam a contaminação da carne dos sacrifícios. Isso é um fato. Porém, precisamos pontuar algumas coisas aqui para, então, tirar nossa conclusão:
(i) Os romanos não tinham proibição alguma de ter galos e judeus que não seguiam as leis judaicas também faziam como queriam. Sendo assim, galos em Israel era algo totalmente possível.
A própria citação de Jesus sobre “galinha” que mencionamos acima prova isso. Dessa forma, o canto do galo que Pedro ouviu podia sim ser de um galo (ave) que estava ali;
(ii) No texto que mencionamos acima em Marcos 14:30, galo vem da palavra grega “alektor”, usada para “galo” ou para “o macho de qualquer ave”.
Sendo assim, o escritor estava sim descrevendo uma ave aqui. Nesse sentido, a meu ver não temos nesse texto uma simbologia, mas uma literalidade.
(iii) A dinâmica da narrativa não parece estar ligada a um horário específico (um sinal tocado em determinada hora), como se Pedro fosse negar Jesus antes da sinalização romana de um determinado horário.
O texto parece mostrar certa surpresa, quando Pedro nega Jesus e imediatamente o galo canta. E isso acontece não somente uma vez.
(iv) Em diversos outros textos, quando temos menção de horários em que ocorrem acontecimentos na madrugada, não temos o uso de “galo” para designar esses horários. Seria lógico que se o galo fosse uma designação padrão para esse “toque romano” que marcava horários na madruga, que isso fosse citado mais vezes.
Mas o que vemos é que isso não ocorre, pelo contrário, a maioria das citações são as famosas “hora sexta”, “hora nona”, “hora undécima”, etc, que eram a forma mais comum de citação de horários.
(6) Portanto, finalizo dizendo que não há elementos suficientemente fortes para crermos que o galo mencionado no momento em que Pedro negou Jesus não era uma ave.
Tudo no texto aponta para o canto do animal que trouxe à mente de Pedro a negação que fez de Jesus diante das pessoas. Portanto, O Galo que cantou tinha pena e Bico.